sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Relatório X - Criação de Desfecho e Ditados Populares

Mais um "Avançando na prática" foi contemplado em nossas práticas educativas.
Grande parte do grupo desenvolveu a atividade proposta pela seção 2 da unidade 4 do TP1. Esta sequência didática trabalha com a produção de um desfecho para uma história.
Diferentes gêneros foram trabalhos nesta atividade. Os alunos criaram finais para:
  • o filme "As crônicas de Spiderwick" - professora Marisa.
  • o filme 'As memórias de Emília" - professora Angela.
  • a fábula "O urso e as abelhas" - Professora Mirian.
  • a fábula "O leão e o ratinho" - professora Noemi.
  • o conto "A gulosa disfarçada" - professora Vanuza.
  • história em quadrinhos " Cebolinha e a rolha" e "Chico Bento em O ESPIÃO"- professora Marta.
  • os contos "O bisavô e a dentura" e "A morte da tartaruga" - professora Marta.

As professoras conversaram com os alunos sobre a produção de texto, em específico, que quando alguém inicia um texto, ele pode tomar vários rumos, tudo vai depender da vontade de quem escreve.

Na socialização dos finais criados, a cada texto lido, novos desenvolvimentos e conclusões eram sugeridos pelos alunos. Com isso, todos perceberam que uma história se "desenrola" diferente na ideia de cada um e as possibilidades são ilimitadas. Além disso, a criatividade foi despertada. No final, os desfechos originais foram lidos ou assistidos que, só neste momento, puderam comparar as produções com aquilo que o autor escreveu.

Já a professora Alessandra optou pela seção 1 da unidade 4 que explora os ditados populares. A cursista Marta também desenvolveu esta atividade.

Segundo o relato das cursistas, o trabalho iniciou-se com a pesquisa com os familiares sobre os ditados populares. Posteriormente, os alunos socializaram as respostas obtidas e verificou-se que, principalmente, as pessoas mais idosas da família conheciam uma quantidade maior de ditados populares. Em seguida, as cursistas relataram que exploraram com as turmas que cada ditado possui um sentido denotativo e outro conotativo.


Para finalizar, os alunos ilustraram os ditados populares. Foi um trabalho interessante e positivo, pois aproximou gerações e o conhecimento dos alunos foi mais uma vez ampliado.






Alunos da 5ª série - Professora Marisa


Relato sobre a atividade do GESTAR


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Procura-se

A professora Marta desenvolveu em suas aulas de redação a atividade "Procura-se" proposta no AAA3. A produção foi aplicada na 8ª série da CNEC. Mais uma vez a escrita foi ampliada e a criatividade despertada.
Parabéns, professora Marta!











Oficina X - Intertextualidade

Nossa pauta contemplou um assunto importantíssimo: Intertextualidade.

Inicialmente, relembramos o conceito de texto. A palavra texto provém do latim textum, que significa "tecido, entrelaçamento". Assim, resulta da ação de tecer, formando um todo, uma rede.
Charolles (1987) afirma que um texto é uma sequência de frases com relações entre si.
Dando contimuidade, nossa reflexão foi para o tema "intertextualidade".
Uma ótima definição é dado por Beaugrande e Dressler (1981) é "a intertextualidade compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção de dado texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores, isto é, diz respeito aos fatores que tornam a utilização de um texto dependente de um ou mais textos previamente existentes."

Assim, a intertextualidade pode ser conceituada como um diálogo entre textos.Alguns exemplos:



Canção do Exílio


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.



Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite
- Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá." (Gonçalves Dias )





Canção do Exílio





Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade! (Murilo Mendes )





Meus oito anos

Oh!Que saudade que tenho
Da aurora da minha vida
da minhainfância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor,que sonhos,que flores
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjas!(Casimiro de Abreu)


Meus oito anos



Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais(...) (Oswald Andrade )




A intertextualidade está presente em diversas áreas do conhecimento, como na pintura e na publicidade.









Agora, qual deve ser o olhar do professor em relação à intertextualidade no ensino de Língua Portuguesa?
Um ensino que tem por objetivo ampliar a competência discursiva do aluno, deve trabalhar com intertextos, pois um texto está sempre relacionado a outros, e nesse diálogo, há o fio condutor que permite compreender seus sentidos. Assim, nós, professores, devemos formar alunos reflexivos, capazes de identificar diferentes sentidos existentes em cada texto realizando a leitura de forma crítica e consciente num ensino produtivo.

As cursistas também assistiram ao vídeo abaixo. Vale a pena conferir.








Relatório IX - Discussão e Dramatização


Cada cursista desenvolveu a atividade de acordo com o seu interesse e planejamento bimestral. Dessa forma, todas as sequências didáticas das seções da Unidade 2 do TP1 foram aplicadas.
De acordo com as cursistas, Angela, Mirian e Noemi que realizaram a atividade da seção 1, o trabalho aplicado com turmas de 5ª série foi bastante significativo, pois os alunos tinham experiências para relatar.
O tema abordado pelos textos "O menino Maluquinho" de Ziraldo e "Por que seus pais estão se divorciando" de César Tozzi (tradução) provocou muito debate e alguns depoimentos chocantes de alunos que geralmente não participam oralmente, mas sentiram-se motivados pelo tema "divórcio" e defenderam opiniões e experiências difíceis.
Os alunos destacaram que:
  • Os pais podem superar, mas os filhos não.
  • Os filhos sofrem com as brigas físicas.
  • O diálogo deve acontecer mais na família.
Segundo as professoras, o tema é polêmico e todos queriam opiniar sobre ele. Foi um momento bastante oral, de discussão de ideias e troca de experiências entre os alunos.
As professoras Marisa e Vanuza desenvolveram a sequência didática da seção 3 com alunos de 6ª e 7ª série. As cursistas relataram que o trabalho reflexivo sobre a oralidade em sala de aula foi muito produtivo.







A professora Marisa separou os alunos em grupo de acordo com as preferências deles. As perguntas estavam organizadas em fichas.












A cursista destacou que os alunos tiveram dificuldades com as palavras interlocutores e berlinda. Além disso, os alunos afirmaram que ouvem até o final se o assunto é interessante, senão "rola" uma conversa paralela. Quanto às inadequações da linguagem do interlocutor, gostam de interagir, pois acreditam que seja uma forma de auxiliar o colega.



A professora Vanuza também trabalhou com esta atividade e aproveitou as respostas dos alunos para a confecção de gráficos. A atividade foi aplicada com a 6ª série. A professora inciou a aula com uma auto-avaliação sobre como agem quando são interlocutores e ouvintes.Para cada pergunta feita, os alunos escreviam a frequência feita em cada situação (sempre, às vezes, raramente ou nunca). A cursista afirmou que nem todos foram sinceros nas respostas dadas. Em seguida, a turma fez os gráficos e analisaram o perfil da turma em relação à oralidade.Ela aproveitou momento e trabalhou com dicas sobre oralidade.Aspectos explorados:
  • naturalidade;
  • pronúncia das palavras;
  • intensidade da fala;
  • ritmo adequado;
  • gramática e vocabulário
  • postura física.



Professora Vanuza apresentando o relatório



As professoras Marta, Alessandra e Izolete optaram pela seção 2.

A professora Alessandra destacou que o poema "O caso do vestido" de Carlos Drumonnd de Andrade chamou muito a atenção dos alunos de 7ª série. As turmas gostaram do texto e demonstraram interesse pela proposta de trabalho.

Inicialmente, foi realizado uma leitura individualizada e outra "dialogada" com os personagens identificados. As discussões e interpretações aconteceram . Quanto ao entendimento do texto, alguns alunos acharam difícil, pois as palavras são complicadas, diferentes das atuais. Já outros afirmaram que apesar do vocabulário rebuscado, a situação apresentada no poema persiste até hoje. Aos poucos, com a discussão, os alunos conseguiram fazer uma análise mais profunda.

Em seguida, os alunos foram desafiados a dramatizar o texto. Alguns grupos apresentaram o texto na íntegra e outros apresentaram uma possível continuação do poema de forma trágica ou cômica.


Alunos 7ª série - Viver e Conhecer







Alunos 8ª série - CNEC



As professoras Izolete e Marta realizaram o trabalho com turmas de 8ª série. Elas exploraram o texto "O casamento dos pequenos burgueses" de Chico Buarque.

Elas destacaram que a música estudada é de qualidade e que os alunos aprenderam a apreciá-la. Eles também tiveram dificuldades quanto ao entendimento de alguns versos e foi necessária a intervenção do professor.Alguns dramatizaram o orginal e outros grupos apresentaram uma paródia do texto.

De modo geral, as sequências didáticas propostas no Tp1 alcançaram êxito e a oralidade de nossos alunos foi ampliada.

Oficina IX- Certo ou adequado?

O grupo do Gestar desenvolveu a aula nº 8 do AAA1.
Em duplas, as cursistas discutiram o texto "Falar mal, o caminho da exclusão" de Gilberto Dimenstein e os comentários de Evanildo Bechara, Maria Thereza Fraga Rocco e Márcia Regina Hipólito.
Depois, cada dupla apresentou para o grande grupo o seu ponto de vista sobre o assunto enfocado nos textos.



Ideias destacadas pelas cursistas:
  • em se tratando de língua, não existe certo ou errado;

  • há variedades linguísticas;

  • cada indivíduo utiliza, na sua vida diária, um tipo de "língua" para conversar com pessoas mais íntimas e outro para se dirigir a alguém menos próximo;

  • as línguas variam no tempo e no espaço;

  • o que existe é o adequado e o não adequado de acordo com a situação.

Cabe lembrar que:

O domínio da língua tem estreita relaçao com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói conhecimento. Assim, um projeto educativo comprometido com a democratização social e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.

(PCN/1997)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Vamos refletir?

"NOIS MUDEMO"


O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, toda poesia e misticismo.
Mas minha alma estava profundamente amargurada. 0 encontro daquela tarde, a visao daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tao banal. .. Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pane de fundo de um drama estúpido e trágico.
As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
-Por que voce faltou esses dias todos?
-E ue nois mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.
Risadinhas da turma.
-Não se diz nóis mudemo", menino! A gente deve dizer: "nós mudamos, ta?
-Ta, fessora!
No recreio, as chacotas dos colegas: "Oi, nóis mudemo!" "Até amanhã, nóis mudemo!" No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.
-Pai, nao vo mais pra escola!
-Oxente! Modi que?
Ouvida a história, 0 pai coçou a cabeça e disse:
-Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozaçoes da meninada! Logo eles esquece.
Nao esqueceram.
Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Ai me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lucio -Lucio Rodrigues Barbosa. Achei o enderego. Longe, um dos ultimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. 0 rapazola tinha partido no dia anterior para a casa de um tio, no sui do Para.
-E, professora, meu fio não aguentou as gozaçao da meninada. Eu tentei faze ele continua, mas nao teve jeito. Ele tava chateado demais. Bostã de vida! Eu devia di te ficado na fazenda coa famia. Na cidade nóis nao tem veis. Nóis fala tudo errado.
Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, engoli em seco e me despedi.
O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.
Uma tarde, num povoado a beira da Belém-Brasília, eu ia pegar ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia.
-0 que e, moço?
-A senhora nao se lernbra de mim, fessora?
Olhei para ele, dei tratos a bola. Reconstitui num momento meus longos anos de
sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.
-Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama? Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
-Eu sou "Nóis mudemo", lembra?
Comecei a tremer.
-Sim, moço. Agora lembro. Como era mesmo seu nome?
-Lucio -Lucio Rodrigues Barbosa.
-0 que aconteceu com você?
-0 que aconteceu? Ah! fessora! E mais facil dize o que nao aconteceu. Comi o ^pão que o diabo amasso. E eta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui boia-fria, um "gato" me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanta e doenlça. Até na cadeia já fui para. Nóis ignorante as veis fais coisa sem quere faze. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de te saido daquele jeito, fessora, mas não aguentei as gozaçao da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui fala direito. Ainda hoje não sei.
-Meu Deus!
Aquela revelalção me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.
O ônibus buzinou com insistência. 0 rapaz afastou-me de mim suavemente.
-Chora não, fessora! A senhora nao tem curpa.
-Como? Eu nao tenho culpa? Deus do céu!
Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas
para mim. 0 ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.
Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos... Superusada, mal usada, abusada, ela uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna -a lingua que a crianlça aprendeu com seus pais, irmãos e colegas -e se toma o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer. comunicando. ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.
E os Lúcios da vida, os milhares de Lucios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: "Não é assim que se diz, menino!" Como se o professor quisesse dizer: "Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra! E siga desarmado pelo matadouro da vida..." (Fidencio Saga)

Essa história mostra que o olhar do professor em relação à variação linguística é determinante para a vida de cada educando.
No texto de Fidêncio Braga o menino desistiu da escola porque disse "Nóis mudemo" e foi corrigido pela professora e sentiu-se humilhado com as gozações dos colegas. Acabou abandonando os estudos e não teve muitas oportunidades em sua vida.
Assim, é na sala de aula que o professor não só encontrará a diversidade linguística, mas também a religiosa, a cultural, a social, a econômica, entre outras.É nesse ambiente que o professor tem o desafio de contemplar a variação linguística de maneira adequada, livre de preconceitos em meio ao ensino da norma culta.
Dessa forma, a escola tem o papel de expandir o discurso do aluno para que ele saiba assumir a palavra e produzir textos - orais e escritos - coerentes, coesos, adequados à situação comunicativa.